segunda-feira, 25 de agosto de 2008

AL NETO (Afonso Alberto Ribeiro Neto)

AL NETO (AFONSO ALBERTO RIBEIRO NETO)

(Por Agilmar Machado)

O “5 em flor” é o símbolo histórico da modelar Estância Pinheirinho, a doze km do centro de Lages, após a ponte sobre o histórico Rio Caveiras (em cujas margens houve o sangrento combate envolvendo Giuseppe e Anita Garibaldi, do qual esses revolucionários saíram perdedores).

O “5 em flor” estava em sua fivela de prata, incrustado em ouro: a ponta inferior do cinco era rematada por um lírio de três pontas; estava na sela de seu cavalo puro sangue inglês, e até na lateral do teto de vinil de seu luxuoso automóvel, ou na camioneta que usava para percorrer o imenso campo de aveia verdejante, nobre ração para seu seleto plantel charolês (depois acrescido também da raça gir – popularmente conhecida por zebu).

Minha convivência com Al Neto foi extremamente próxima, enquanto estive – durante quatro anos – como secretário do Município de Lages, no planalto serrano.

Al Neto impunha respeito não somente pela sua figura vistosa e olhar firme, mas também pela imenso cabedal de cultura de que era detentor.
Falando ou escrevendo, sempre foi absolutamente correto: não se observava um lapso de concordância ou vício de linguagem.

Advogado, jornalista, escritor (poliglota) e impecável comentarista de televisão, retornou a Lages depois de viver, desde novo, na Inglaterra, Estados Unidos e Rio de Janeiro, exercendo atividades superiores junto a USIS (United States International Sistem), órgão de divulgação americana para os países de idioma de origem latina de todo o globo.

Esse notável personagem detestava mediocridade.

Metódico e reservado, era, às vezes, chamado de “snob” por muitos que não desfrutavam da sua seleta amizade e elevada atenção.

Sua pontualidade (herança da convivência britânica?) era algo impressionante!
A hora e o minuto eram importantes para Al Neto e ele os cumpria rigorosamente, até no chá da tarde, sob o frondoso flamboyant na imensa área de pasto verdejante e caprichosamente podado que ficava à frente da casa da estância: as 17h seus serviçais (devidamente uniformizados) o serviam numa elegante mesa de estreitas treliças que era posta ali com cadeiras no mesmo estilo, porém almofadadas.
Tudo o que se servia era geralmente importado e de primeiríssima qualidade no chamado primeiro mundo: biscoitos embalados em latas lacradas e de variados sabores, avelãs e queijos de toda espécie.

Se um encontro na estância era aprazado para as nove horas da manhã em sua vasta agenda, até para a celebração de vultosos contratos mercantis de venda de reprodutores ou de sêmen, ou para tratar da próxima exposição de Esteio de reprodutor Charolês, não havia tolerância de um minuto a mais. O retardatário eventual certamente teria que fazer meia volta e dificilmente seria novamente atendido por ele.

Al Neto foi o mais expressivo fornecedor de sêmen de charolês não somente para o país como também para a Europa e paises das Américas. A época, sua capacidade ultrapassava a do próprio órgão estadual oficial de agropecuária.

Um rio nascia e terminava dentro da estância. Suas águas eram tão limpas que uma pequena folha seca que eventualmente nele caísse parecia um enorme entulho manchando aquele impecável curso hídrico.

No lado leste: a centenária e imponente sede da estância, a estrutura de coleta e congelamento de sêmen, os grandes depósitos de forragem, os vários campos de manutenção e manejo de gado, o acesso geral à sede, as garagens, os abrigos do plantel e... o cemitério numa colina mais ao norte.

Havia (creio que ainda está preservada) uma reserva inédita nos dias de hoje. Tratava-se de uma gleba gigantesca de araucária de muitos anos, onde tudo era absolutamente preservado segundo a natureza intocada. Não somente as gralhas azuis, responsáveis pela disseminação do pinheiro, mas também ali se encontravam animais das mais variadas espécies nativas, convivendo harmonicamente. Eram comuns as aparições de velhos javalis, cujos dentes eram retorcidos pelos anos vividos. A ordem enérgica era de que ali se perpetuasse o santuário natural e imaculado para todo o sempre. Ao redor uma cerca de vários km de extensão, totalmente de arame farpado esticados em espaços paralelos que não ultrapassavam 15cm entre si e uma altura de 2 metros.

(continua)

Nenhum comentário: